Pare de viver o filme que ninguém assistiria
Quando foi que deixamos de escrever nossos roteiros?
Imagine que você vai ao cinema assistir a um filme e o protagonista apenas reage aos acontecimentos, sem tomar decisões, sem arcos de crescimento, sem conflitos resolvidos. A trama seria previsível, entediante, e o público abandonaria a sala ou só suportaria porque pagou para assistir. Agora, reflita: sua vida está seguindo o roteiro feito por quem?
A infeliz verdade é que muitos de nós vivemos como atores presos a papéis que foram escritos por outros: familiares, medos internalizados, expectativas sociais, hábitos automáticos. Mas e se você pudesse escolher como sua banda vai tocar? Se você assumir o controle da câmera e gritar "ação" para dar início às cenas? E se fôssemos os roteiristas e diretores de nossa história?
fonte: pinterest
A ideia — que ultimamente está sendo muito propagada — de ser protagonista soa glamorosa, mas, na prática, é um papel limitado. Protagonistas são levados pelas circunstâncias, como crianças que pouco sabem sobre a vida. Choram se estão em um lugar que não gostam, riem quando recebem um doce, mas raramente se perguntam por que estão onde estão.
O problema é que, se não escrevemos nosso enredo, algo ou alguém fará isso por nós — e dificilmente será o final que desejamos. Se nos limitamos a esse papel, mesmo que sejamos "o personagem que conhecemos mais a fundo", permanecemos sujeitos a um roteiro invisível. Jean-Paul Sartre dizia que o ser humano está "condenado a ser livre", ou seja, até nossa recusa em escolher é, paradoxalmente, uma forma de escrita desse roteiro.
Ser roteirista da sua história não significa controlar cada vírgula, detalhar tudo o que vai acontecer nos mínimos detalhes ou prever os imprevistos. Significa ter uma paisagem para olhar, mesmo quando mudam os atores e os cenários.
Não sou muito fã de listas de aplicações, mas aqui vão algumas:
Defina objetivos, mas não os idolatre.
Permita-se revisitar o script.
Use as frustrações como rascunhos para aprimorar a próxima cena.
Um diretor não filma tudo o que vê. Ele seleciona ângulos, corta o desnecessário e destaca o essencial. Na vida, isso se chama priorização, e isso é um ato de coragem.
Pare de dizer "sim" para coisas que fogem do seu enredo principal! O autoconhecimento é o backstage da direção — é entender seus medos, valores, crenças, traumas e experiências e como todo esse turbilhão de coisas influencia no seu presente e futuro.
O filósofo Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto, escreveu que "entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher".
Ser diretor é habitar esse espaço: mesmo em situações que não controlamos, como perdas e fracassos, temos autonomia para decidir qual significado atribuir a elas.
Uma das coisas que mais gosto em sitcoms é que a maioria mostra cenas que provavelmente seriam levadas como "erros" em outros tipos de série. Nenhuma produção nasce pronta. Às vezes, uma ideia é apenas isso: uma ideia 💡. Você precisa ser mais compreensiva consigo. Pare de enxergar takes dos erros de gravação como fracassos; são eles que te ajudam a crescer, criar e melhorar. Persistir e ter resiliência é o melhor caminho para o sucesso, apesar de que, às vezes, ele é um saco.
Viver como diretor e roteirista não é sobre controle absoluto — é sobre autoria. É sobre poder olhar para trás e dizer: "Essa história teve altos e baixos, mas cada escolha foi minha. Cada dor e erro me ensinou. Cada corte me libertou. E, mesmo que o filme não seja perfeito, é genuinamente meu."
Portanto, pegue a câmera. Escreva a primeira cena. E, acima de tudo, não tema os aplausos ou críticas que virão quando o mundo perceber que você não é apenas um personagem — é o artista por trás da obra.
inspired by: Isabela Matte PodCast
Obs para cristãos:
Não se trata de abandonar a ideia de entregar a vida nas mãos de Deus, mas de entender que essa entrega é o primeiro ato de direção. Roteirizar sua história sem colocar o Senhor como o autor é como filmar no escuro: você pode até ter boas intenções, mas sempre vai faltar a luz que revela o caminho (Salmo 119:105).
A vontade d’Ele não anula sua agência — ela a orienta. Assim como um diretor segue um roteiro maior (a Bíblia), você só conseguirá viver plenamente o enredo que Ele preparou se conhecer a Palavra e entregar o controle do script Àquele que já escreveu o fim desde o princípio (Isaías 46:10).
Não é sobre deixar de planejar, mas sobre planejar de joelhos. Afinal, até os projetos mais ousados devem começar com um coração que diz: "Seja feita a Tua vontade, não a minha" (Mateus 26:39).
Dedicado a todos que trocaram a inconstância pela coragem de assumir as rédeas e carregar sua cruz.
Esta foi minha primeira newsletter espero que tenha gostado, deixe seu comentário falando o que achou, se pensa da mesma ou de forma diferente e me dê feedback de como posso melhorar (ainda tô aprendendo a mecher no site)
Amei o texto e as referências usadas!
Super me identifiquei
Ansiosa para o próximo tema💖🙏🏼
Que inspiração você é, meu bem. Ótimo e muito instigante o acervo, muito boas as citações e a aplicação para os cristãos. O único defeito é o texto acabar, meus parabéns e continue sempre compartilhando essa benção que Deus lhe deu, a de escrever.