O medo de ficar sozinho ou de ser rejeitado é uma das experiências humanas mais universais e ridiculamente mais íntimas. É natural que nós tenhamos medo da 1solidão existencial, fomos criados para nos relacionar, somos seres dependentes de conexão para sobreviver. Mas quando esse medo se torna algo que consome, é porque ele deixa de ocupar seu lugar e passa a se tornar uma identidade, distorcendo nossa percepção e nosso valor próprio, deixando nossas almas presas no calabouço da ansiedade e do desespero.
Porque o medo de ficar sozinha se torna um afogamento que me impede de respirar?
Porque ele toca nas mais profundas feridas: daquela criança abandonada que não tinha amigas, o trauma de não se sentir digno de amor e a terrível angústia de não pertencer a lugar nenhum. Esse tipo de rejeição, sendo ela real ou interiorizada na mente, ecoa um conceito de que somos falhos, incompletos e incapazes de preencher a fenda que está aberta em nós.
Então, nossa magnífica mente cria os filmes mais melodramáticos possíveis, e esse roteiro não é somente sobre solidão, mas sobre aniquilação. Quando aceitamos os farelos deixados na mesa após o almoço e deixamos de existir em nome de ser “aceita”. E o pior é que, ao tentar escapar dessa solidão, você só se isola mais – de si mesma – sua autenticidade é jogada no circo da aprovação.
Estar sozinho não é como ser invisível, mas nunca lembramos disso. A sensação de que nosso valor só existe quando o outro reconhece é como se, sem plateia, não estivéssemos fazendo nosso papel como deveríamos, e então deixamos de vivê-lo e aceitamos outro papel secundário que não tem nada a ver com a gente.
Quando o socorro chega?
O salva-vidas só chega quando você começa a fazer as perguntas que doem: “O que há em mim que temo enfrentar sozinho?” “Quem nós somos quando ninguém está olhando?” Esse vazio que tentamos disfarçar sempre esconde um bloqueio de confrontar nossa própria história.
É quando calamos os monstrinhos e descobrimos que a água que parecia nos afogar pode nos sustentar. Para boiar, não precisamos que ninguém segure nossa mão, somente de nós, com as mãos vazias.
O segredo não é a ausência de medo, mas a coragem de ressignificar a solidão. Ela não é um maremoto que nos engole, mas um rio que nos leva para dentro e, assim, quando paramos de lutar contra a correnteza, descobrimos outros lugares que não tínhamos visto.
Sem jet-ski.
E não se preocupe, esse texto foi mais para mim do que para você que está lendo. Lido com esse medo constante minha vida toda, e essa analogia com o mar foi até curiosa, pois eu amo o mar.
Eu ainda estou aqui esperando o salva-vidas chegar, infelizmente, ele não tinha jet-ski e está vindo nadando, mas eu estou aqui esperando, boiando. Quero ver o dia em que não vou precisar esperá-lo e vou nadar até a costa, para ver o fundo do mar de outra perspectiva e não como uma coisa assustadora.
Quero ser a pessoa que não teme a própria companhia, pois essa pessoa nunca está verdadeiramente sozinha – está constantemente consigo, e esse é o primeiro passo para ser visto, amado e escolhido, não por necessidade, mas por ser quem é.
A solidão existencial é um sentimento de desconexão com o mundo e com os outros. Pode ser vivenciada como uma angústia, quando a pessoa se liberta de tudo que lhe é alheio e existe apenas consigo mesma.