Me sinto como um cajá
vulnerabilidade e a resistência coexistem
Sim, eu estou literalmente falando da fruta. Esses dias estava comendo cajá e parei para pensar “acho que se eu olhar bem no fundo sou igual essa fruta”.
O cajá é uma fruta que ele confronta suas expectativas, ele tem uma casca esquesita e a polpa da fruta pode ser doce mas geralmete com um toque de acidez. Além disso ele tem espinhos no centro, então tem que ter um pouco de caultela quando fora comer.
Acredito que essa fruta estranha que consegue ser doce, ácida e ter até espinhos em seu interior é uma boa representação dos seres humanos (principalmente os mais parecidos comigo). A doçura: representa qualidades como gentileza, empatia, criatividade ou amorosidade, é o que faz o mundo nos desejar. Os espinhos: são como nossos mecanismos de defesa, traumas, inseguranças ou até características mais rígidas da personalidade, é aquilo que, mesmo sem intenção, pode machucar ou afastar as pessoas. Essa dualidade — doce e espinhosa, vulnerável e protegida — não é uma coisa que você pode só observar na fruta, mas é possivel ver através de uma analogia em tantos seres humanos que carregam, sob a pele, universos inteiros de contradições.
Os espinhos humanos — traumas, medos, erros recorrentes — não podem ser somente julgados como falhas de caráter, masseria mais interesssante se observassemos como marcas de uma jornada. Eles existem porque, em algum momento, foram necessários, protegeram a doçura que, sem eles, poderia ter sido devorada antes de amadurecer. O problema é que as vezes nós mesmos ficamos tão focados em proteger a nossa “doçura” que escondemos ela de nós e das pessoas atrás dos espinhos, e é ai que mora o perigo.
E nós como uma fruta espinhosa podemos cair na falácia de se comparar com outras frutas que julgamos ser melhores.
Tem uma fruta que só como na epóca de natal: a lichia, ela tem um sabor tão doce que as vezes penso em ser como ela com sua casca áspera mas inofensiva. Ou como a uva, que pode ser azeda, mas nunca cortante. No entanto, cada uma tem seu preço. A lichia, por trás da aparência imponente, apodrece rápido demais se não for consumida no momento certo. A uva, quando ignorada, vira vinho ou mofo, dependendo das mãos que a tocam. Nenhuma é imune ao tempo ou de acontecimentos infelizes.
O desejo por ser "menos espinhoso" muitas vezes esconde um desejo invisível: ser fácil de amar. Mas a verdade que odeio é que: o amor que exige facilidade raramente é profundo, e de sinceramente, eu odeio amores rasos!
O cajá não é uma fruta para pressas ou paladares impacientes. É para quem entende que a doçura mais rara está escondida atrás de camadas que desafiam a fugacidade. Então o que resta é ver que os espinhos não existem apenas para machucar, mas para traçar limites, mostrar que há camadas a serem respeitadas. E que a doçura não precisa ser infinita ou incondicional, até o mel azeda se exposto a circunstâncias erradas.
Aceitar essa contradição é um ato de coragem. Assim como o cajá não se explica para quem o rejeita por seus espinhos, nós também não precisamos justificar nossa complexidade para quem insiste em ver o mundo em preto e branco. Afinal, são as nuances — o doce e o ácido — que nos torna inteiros. Talvez a lição aqui seja que não precisamos nos desculpar por ter espinhos, devomos compreendê-los como parte de quem somos — e aprender a equilibrá-los para não sufocar nossa própria essência.
"Se quiser meu sabor, aceite também minhas arestas"
Pensar na transformação também não é ruim, você pode querer ser uma fruta que acha melhor, mas tem que se lembrar que nenhuma transformação verdadeira começa com a rejeição de si mesma. Você não pode simplismente jogar quem é de lado para ser outra pessoa, tem que se aceitar para que depois possa fazer mudanças.
Ser quem é não é uma condenação
No final, não há frutas certas ou erradas. Há apenas aquelas que aprendemos a amar apesar de suas formas imperfeitas. O cajá, com seus espinhos e sua polpa, me lembra que a complexidade não é um defeito, mas ninguém é obrigado a entender-lá tembém. Porém quem ousa descascá-lo encontra não apenas sabor, mas a coragem de uma fruta que nunca deixou de ser resiliente, mesmo sob o sol mais forte.
Espero que você tenha gostado de ler esse louco devaneio de minha mente.
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Obrigado e te vejo em proximas viagens!